Dona Zezé, de 102 anos, faz terapia ocupacional
(Foto: Alex Araújo/G1 MG)
O Brasil tem pelo menos 17 mil pessoas com mais de cem anos – segundo os dados preliminares do Censo 2010 divulgados no final de setembro –, um número que deve aumentar segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Estatística). São pessoas que passaram a terceira idade com saúde e que agora chegam ao que médicos estão chamando de “quarta idade” – como dona “Zezé”, de 102 anos, que mora em Belo Horizonte.
Todos os dias dona Zezé (dona Maria José Bossi Scellner no RG, nascida em 17 de dezembro de 1907) acorda às 7h e se mantém cheia de atividades. Participa de sessões de terapia ocupacional, faz aulas de música e frequenta uma vez por semana um centro espírita. “Meu sobrinho me pega e me leva para eu ver a palestra. Levo uma garrafa com água. A reunião acaba às 22h e ele me traz de volta”, conta ela.
Dona Zezé é um exemplo típico de pessoa que não deixou se abater pela idade avançada. Viúva há 33 anos, ela só deixou de trabalhar, como costureira, quando a visão não mais permitiu, há apenas um ano. “Essa roupa que eu estou vestida, fui eu que fiz”, conta, orgulhosa. Vaidosa, além das roupas alinhadas, ela não fica sem batom e pinta o cabelo a cada dois meses.
Dona Antonia, em seu aniversário de 106 anos
(Foto: Arquivo Pessoal)
Para dona Zezé, a atividade é essencial para viver feliz na “quarta idade”. Isso e uma atitude positiva. “Não guardo raiva de ninguém. Esqueço tudo, o vento leva”, afirma.
O médico psiquiatra Elko Perissinotti concorda com a receita. “O que a gente mais ouve de quem tem mais de 70 anos é ‘vou fazer isso para quê? Estou no fim da vida’. Mas o que alguns chamam de ‘fim da vida’ pode durar muitos anos. Anos que precisam ser proveitosos”, afirma Perissinotti, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Para envelhecer com saúde, segundo ele, é importante fazer o que ele chama de “musculação para o cérebro”.
“Todas as pessoas perdem massa muscular quando envelhecem e é por isso que fisioterapeutas recomendam musculação. Com o cérebro, é a mesma coisa. Você perde neurônios, então precisa se exercitar para se manter em forma”, explica.
Nessa linha, dona Zezé está seguindo exatametne a recomendação médica. “Aulas de música, como piano, violão, são um exercício fantástico para o cérebro. De idiomas também. E elas estimulam a sociabilidade.”, afirma Perissinotti.
Mas, é claro, não basta a boa vontade do idoso. Os parentes precisam estar envolvidos. “A família é essencial para isso. O idoso precisa se sentir parte da família. Precisa viver, não ser visitado”, completa.
Antonia, com uma taça de vinho na mão, e parte da
família reunida. (Foto: Carolina Iskandarian/G1)
Dona Antônia Ferreira Sampaio, de 106 anos, conta com esse apoio. Ela vive em São Paulo, com parte da família. “Parte”, porque são 15 filhos (dez já falecidos), 27 netos, 28 bisnetos e três tataranetas. Apesar do paparico dos familiares, ela confessa que é difícil lembrar o nome de tanta gente.
Como dona Zezé, dona Antonia faz questão de se manter no batente. Ela ajuda nas tarefas de casa -- tirar a roupa do varal é a sua responsabilidade. E, apesar da idade, não deixou de viajar. Em maio deste ano, ela voltou à Bahia, onde nasceu, para passear por Porto Seguro e Ilhéus. A parte favorita da viagem? O voo. “O avião é gostoso demais. Quero voltar para lá”, conta.
O aposentado João Alves Prestes é um ano mais novo do que Antonia, e tão ativo quanto. Nasceu em 15 de agosto de 1905 e tem a saúde tão boa que todos os dias faz uma caminhada pelo bairro. “Ele não tem problema de saúde. Fez exames no mês passado e está zerado. Pressão, colesterol, está tudo bem”, conta o filho Jair Alves Prestes, 61.
Na casa dos Prestes, em Santo André, no ABC, é a neta Rosângela que anuncia em suas anotações o tamanho da família: “são 9 filhos, 32 netos, 40 bisnetos e 9 tataranetos.”
Sentado em uma poltrona, ele diz que “é Deus” o “culpado” por ele ter vivido mais de um século. “Nunca imaginava isso. Tenho muita saúde.”
Postado por Carlos PAIM
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